PAULO ROBERTO CANNIZZARO
( BRASIL - PERNAMBUCO )

Escritor, advogado e consultor.
Apaixonado por história, cinema, política e literatura.
Fundador da Cannizzaro & Associados
Recife, PE

NOVA POESIA BRASILEIRA.  Capa: Christina Oiticica.  Rio de Janeiro: Shogun Editora e  Arte Ltda, 1986.  124 p.  No. 10 856 Antologia cedida gentilmente pelo livreiro BRITO, de Brasília.
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda


DO DESPERDÍCIO DO CONFLITO
OU POEMA PARA O OFÍCIO DA PAZ

I
A ilegal máscara do conflito               era
o disfarce dos insanos armando o cadafalso
da ilusão da guerra, jornada falsa
que da força mesmo nenhuma força revela.
Um rio imoral de sangue e dor          era
o consumo grave dos irmãos desperdiçados
por toda uma geração de viciados
em gastar virtudes com agressão que aberra.
No círculo do minuto violento           era
exumada a palavra hábil de alfazemas
e ali o tempo como um espasmo, doía mais
em gradis de amargor e de excessos de feras.
Deste ar não fica nunca cheiro de saudade
só tinta manchada tomo meio vergonha
e uma gulodice de ódios que só sonha
com cantigas à mingua de revoltas e sabres.
Ali, nem a poesia mais exata          era
capaz de caricaturar o conflito inútil
nem qualquer metáfora copiar o fel inconsútil
que encarde todos os horizontes dos olhares.

II
Do outro lado do gesto
a alvenaria do ato      
de um barro de paz,
semeada com luvas de pelica
e truque de doçura tão próprio
capaz de explicar a vida e a relva.
Haviam pássaros de plantão
informando os aposentos do verão
com flautins e têmperas de risos.
Nada trágico, semblantes oblíquos,
sentença de cárceres,
tudo em plena oferta
como bandeja de doces,
olhares suaves em parapeitos de certezas,
tardes, silêncios com dons de respostas,
noites sem receios,
nenhuma cerimônia com a poesia
e o trânsito da palavra dócil,
nada para o desencontro ou ao duelo,
nada por matar para não morrer.
A Paz            era ali
o prelúdio de todos os exercícios,
franca, elevada,
múltipla como a vigília dos fiéis,
forjada na alquimia das gerações pródigas,
era mesa posta e fartura, de pleno ofício,
repousando o pergaminho das soluções,
o licor          o anúncio puro
e a importância do sonho.

*
VEJA e LEIA outros poetas de PERNAMBUCO em nosso Portal:
https://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/pernambuco/pernambuco.html
Página publicada em agosto de 2025.